CCR MSVia deve manter concessão da BR-163 em MS sem concorrência em leilão simplificado

Deputados estaduais reagem com críticas após única proposta vir da atual operadora da rodovia, que descumpriu meta de duplicação por mais de 10 anos

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A concessão da BR-163 em Mato Grosso do Sul deverá continuar sob responsabilidade da CCR MSVia, empresa que deve assumir rebatizada como Motiva. A companhia foi a única a apresentar proposta no leilão simplificado promovido pelo Ministério dos Transportes, cuja entrega de envelopes ocorreu nesta segunda-feira (19), na sede da B3, em São Paulo.

A sessão pública para formalização do resultado está marcada para esta quinta-feira (22), no mesmo local, mas a ausência de concorrentes praticamente garante a permanência da empresa na operação da rodovia. Esse é o primeiro leilão no modelo simplificado realizado no Brasil.

A iniciativa do governo federal busca relicitar trechos de rodovias já concedidos, mas que apresentaram problemas de execução e tiveram a devolução solicitada pelas concessionárias. A ideia é evitar o fracasso de licitações por falta de interessados, garantindo a continuidade dos serviços com novas metas e obrigações.

A BR-163 é considerada uma das principais rotas logísticas do agronegócio, cruzando Mato Grosso do Sul de sul a norte, entre os municípios de Mundo Novo e Sonora, com 845,9 quilômetros de extensão. A CCR venceu a licitação original da BR-163 em 2014, com a menor tarifa de pedágio, e assumiu o compromisso de duplicar toda a rodovia até 2019.

No entanto, apenas 150 km foram duplicados até hoje, o que representa cerca de 18% do previsto. Alegando impactos da crise econômica e frustrações de receita, a empresa pediu a devolução amigável da concessão em 2019. Sem sucesso em atrair novos interessados por meio de licitação tradicional, o governo federal optou por renegociar o contrato com a concessionária.

A repactuação foi aprovada pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e pelo Ministério dos Transportes e, no fim de 2024, enviada ao TCU (Tribunal de Contas da União). Por seis votos a um, o novo contrato foi validado, apesar do voto contrário do relator, ministro Aroldo Cedraz, que considerou a proposta ilegal por contrariar normas jurídicas. A maioria, porém, entendeu que o acordo era necessário diante da dificuldade de atrair novos operadores.

O contrato foi prorrogado por mais 10 anos, com vigência até 2054, e prevê R$ 13 bilhões em investimentos, dos quais R$ 9,3 bilhões devem ser aplicados nos primeiros nove anos. As obras incluem 210 km de duplicações, 170 km de faixas adicionais, 141 obras de pontes e viadutos, 259 acessos, 128 pontos de ônibus, 44 passarelas de pedestres e 17 passagens de fauna. Também está prevista a implementação de acostamentos em 467 km e um sistema de monitoramento inteligente para controle do tráfego em tempo real.

O novo contrato estabelece gatilhos de investimento conforme o volume de veículos. Se o tráfego ultrapassar 7 mil veículos por dia em determinado trecho, a concessionária será obrigada a duplicá-lo. Para trechos com fluxo entre 3 mil e 7 mil veículos/dia, deverão ser implantadas faixas adicionais. Abaixo desse volume, os trechos serão apenas monitorados.

A tarifa de pedágio foi fixada em R$ 7,52 a cada 100 km. O edital previa a possibilidade de propostas com tarifas menores, o que permitiria à Motiva cobrir o valor e vencer o certame. Contudo, nenhuma outra empresa manifestou interesse. Caso outra concessionária tivesse vencido, o contrato previa indenização de cerca de R$ 390 milhões à Motiva, referente a desapropriações e obras já realizadas.

Imagem Foto: Mariza Ávila

Deputados criticam repactuação: "Retrocesso"

O resultado gerou forte insatisfação entre os deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Nesta terça-feira (20), parlamentares reagiram com críticas ao processo, que consideram decepcionante.

Para o deputado Junior Mochi (MDB), presidente da comissão criada para acompanhar a concessão, a falta de concorrência é alarmante. “Vejo com muita preocupação. Só uma empresa participou. Ou há um acordo entre as companhias para manter a CCR, ou consideraram o trecho inviável, o que não acredito. Os estudos apontam grande fluxo na rodovia”, afirmou.

Mochi também criticou o fato de o novo contrato prever menos duplicações do que o previsto originalmente, mesmo após mais de uma década de descumprimento. “A empresa entregou só 150 km. Agora ganha mais 10 anos para fazer mais 203 km, somando 353 km — menos da metade da meta inicial. Isso, por si só, deveria impedir a repactuação”, declarou o deputado.

O parlamentar ainda destacou que o Ministério Público Federal instaurou inquérito civil para apurar a situação e que a ANTT tem se mostrado omissa. “Cabe ao MPF avaliar a legalidade. Nós entregamos documentos e, se houver indícios, poderá ser ajuizada uma ação civil pública.”

A relicitação também prevê a alienação de 100% das ações da concessionária, o que garante que a empresa vencedora — neste caso, a própria Motiva — assuma integralmente a responsabilidade pela manutenção, ampliação e operação da BR-163. A expectativa é que as obras comecem a ser executadas ainda no segundo semestre de 2025.

A BR-163 é considerada estratégica para o escoamento da produção agrícola nacional, especialmente de grãos e carne, e sua modernização é apontada como essencial para garantir a competitividade do agronegócio brasileiro.

Fonte: MS Todo Dia

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